quarta-feira

Amizade em Hibernação

Promessas de encontros, adiamento de telefonemas, cumprimentos através de terceiros. A nossa bela amizade estava adormecida. Receio até que tenha deixado de respirar. Terá sido o período de hibernação da nossa relação demasiado longo? Coloquei, a medo, a mão sobre o ombro do meu amigo, assumindo que este estava congelado. Alegrei-me quando ele despertou de imediato e correspondeu com um abraço tropical. Há quanto tempo não estamos juntos! Tão pouco tempo para estarmos! O fascínio da presença mútua acelerou-nos a ansiedade e as palavras. Guardámos forte o momento para dele nos alimentarmos durante o Inverno da separação que inevitavelmente viria.

A Armadura

Que raio de homem! Anda numas vestes carnavalescas que lhe escondem a cara e o corpo das suas ideias. Que cinzentão, taciturno e inexpressivo ser. Está dentro de uma armadura de metal, medieval. Deve-se sentir ultra-protegido, contra balas e insectos inimigos. Porém, ao defender-se tão acerrimamente, criou à sua volta um espaço proibido. Afasta os maus, mas afasta os bons, que são mais. Mais: como a vestimenta é pesada, tem dificuldades de locomoção; é lento e ninguém quer por ele esperar. Com o propósito da sua perfeita e cega segurança, o raio do homem fica para trás, sozinho, sem o trovão barulhento da multidão.

O Pneu

- Hindus, incas e companhia dizem que o tempo é cíclico, um círculo de idades que se repete. Católicos, judeus e tal clamam que o tempo é linear, uma recta com passado lá atrás, presente aqui e futuro acolá à frente. Que tens tu a dizer, pneu?
- Bem, por um lado, o de dentro, rodo e rodo e rodo sobre mim para poder andar, pois esse é o meu desígnio – não fui feito para estar parado. Por outro lado, o de fora, para saber por onde ir, preciso de um caminho, uma recta, uma partida e uma chegada. Assim, se só olho para mim, não vou a lado nenhum; se só olho para a estrada, não cuido do meu próprio bem-estar e esvazio-me devagar ou rebento depressa.

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