terça-feira
As Algemas da Ajuda
Durante anos, Ç. andou sem descruzar os dedos. As unhas trepadeiras enrolaram-se até aos pulsos e surgiram-lhe umas amareladas algemas de ceratina. A posição de reza involuntária, que as mãos exibiam, trouxe-lhe prisão de movimentos seus e crença nos outros e na compaixão que teriam ante a sua condição.Houve uns bondosos espertinhos que, no lugar de lhe darem comida à boca, ofereciam uns corta-unhas. Ç., de pronto, os recusava...ora...ora...intendiam os ditos misericordiosos amputar uma parte de si? Arrancar algo que tinha crescido consigo e que fazia parte da sua própria natureza e da sua própria história??? Eu, ao longe, roo até ao sabugo, ensaiando responder à pergunta para vinte: como se ajuda alguém que não quer ser ajudado?