terça-feira

Atrasos

Atrasei-me: para o almoço, que esfriou; nos prazos e perdi o emprego; a ser mãe e fiquei sem filhos; na resposta e perdi uma amiga; a pagar e tornei-me incumpridora; na decisão e perdi as escolhas.
Foram assim os meus dias: fiz uma bola de atrasos e, quando quis ser pontual, ela esmagou-me. Tendo chegado a minha hora, eu não estava preparada. Passei a acreditar na vida após a morte para recuperar o que não havia feito. Na nova encarnação, a sucessão de atrasos manteve-se e eu permanecia sem refeição quente, sem obra, sem família, sem amizade, sem bom nome e indecisa. Ia passando por vários corpos e várias épocas, mas as minhas vidas quedavam-se sem história. Por mais imortalidade que me dêem, os atrasos matam-me.

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