terça-feira
Combate Noctívago
É um combate diário. O sono, de calções pretos e eu vestido de branco. Sem tréguas, levo os primeiros sopapos. Nos primeiros assaltos, contudo, esquivo-me com rapidez. Depois, já com princípios de cansaço, injecto algum doping, em doses de café, que sustém os pensamentos ágeis e as pernas energéticas. A força vai escasseando: um murro esplendoroso no meu olho esquerdo fecha-mo definitivamente. Outro golpe, no lado direito. O sangue do sobrolho cai para as pálpebras e fá-las tão pesadas que as de cima se unem às debaixo. De vistas cerradas, ouço o meu adversário a circundar-me e a amolgar-me todo o corpo. Deixo de pensar, deixo de falar. Atordoado, absolutamente atordoado, quero apenas fim, o fim. Knock Out. Uma pancada mais e estatelo-me. Inconsciente, quedo-me deitado no ringue até à manhã seguinte. Quando ela chega, acordo, estremunhado, ainda a levar murraças.