terça-feira

Mares de Olhares

Contorço-me, destabilizo-me, incomodo-me. Presumo-me observado. Viro a cabeça e tiro da nuca uns olhos que ali devem estar há muito. Pego nas minhas vistas e atiro-as para as órbitas de quem me estava a enxergar. A senhora, dona de lentes azuis, defende-se com pálpebras aferrolhadas e desvia a, agora minha, contemplação. Disperso a atenção e, de surpresa, sem escarcéu, fisgo novamente o olhar. Anzolo o seu. Ou foi o dela que iscou o meu? Nadam no mar de miragem o pescador e o pescado, que não se diferenciam. Pode um de nós cortar a linha, com umas sobrancelhas esguelhadas ou puxá-la, rodando o carreto com um sorriso. Troca de olhares: compensação visual que nos afoga em perplexidades mútuas.

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