terça-feira
O Homem-Espelho
Homem normal, pele espelhada. Família de igual forro. Casa de espelhos. Olha para o filho e vê-se mais alto e delgado: a imagem de um pai. Ao contemplar o avô reconhece-se num pequenote gorducho. Observa a esposa, vislumbrando as parecenças; tão iguais são os dois que não distingue quem é o indivíduo e quem é o reflexo.
Ele olha-se a si próprio como dois espelhos face a face, andando para trás e para a frente sem nunca se ver; apenas constata o infinito, o infinito inconclusivo da natureza humana. Uma pessoa só se conhece através de outra pessoa, nunca através dela mesma; o Homem só consegue realmente saber quem é quando alguém dele se aproxima muito e o olha para dentro, como uma janela que ao longe é espelhada e impenetrável e ao perto é apenas um vidro fino e transparente.