terça-feira

O linguarudo

Esfregara viçosamente a cara esperançado num crescimento instantâneo de barba, virara-me a favor do Sol, tentando apanhar outra cor de olhos, contraíra as pernas e a barriga na busca da invisibilidade. Infrutífero esforço. Aí vinha o língua longa. Fora este quem me inaugurara o túnel entre tímpanos. Irra! Bicicleta sem rodas que só cansa ouvir e não leva a nenhures.
Contava a história da sua vida e passadas (ou paradas) duas horas descrevia o seu terceiro mês de gestação. Congratulei-me quando as águas rebentaram e felicitei-o pelo próprio nascimento, “É um milagre que vem do céu”. Eu subi desinteressado o olhar e ele observou com a precisão e perspicácia do óbvio: “Está a começar a chover”. “ Oh! Pois está”, falsurpreendi-me. Desculpei-me e escapei-me, “ a molha manda-nos embora, é melhor ir marchando. Saúde!”

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