O. Bran

Era um aldrabão inato, de índole tão burlona, que enganara até a própria morte, fingindo-se falecido quando estava em coma.

Estranhamente, chamavam ao homem mais palavroso de sempre um homem sem palavra. Foi envelhecendo e engrupindo todos num sucesso irrepreensível até ao universal epíteto “o grande enganador”. Porém, o clímax da fama foi o seu enterro.

Já não havia ninguém que acreditasse nas suas mentiras; e como verdades dele nunca haviam escutado, a sua vida tornou-se insuportável: quando na pastelaria pedia um café traziam-lhe uma cerveja, se queria ir para o norte davam-lhe um bilhete para uma terreola a este. Os “pequenos enganados”, escaldados, não mais o queriam ouvir.

O mentiroso enlouqueceu, acreditando ter entrado numa doença bizarra: quanto mais falava mais mudo ficava.