terça-feira

O Pingo

Ele veio na última onda da maré cheia. Nenhuma outra o recapturou para o mar, o da vida. Ficou o pobre encostado à água que respira e atolado na areia que não suspira. Foi definhando, parte dele infiltrou-se na terra, a outra metade evaporou-se para o céu. Lá em cima, empurraram-no: “Nenhuma nuvem se faz com gotas egoístas”, argumentaram. Caiu num riacho e depressa ambicionou afluente e rio e laguna e oceano. Jamais, durante o percurso, quis nutrir planta ou saciar animal. “Ninguém me desviará dos meus desejos, não me darei a ninguém”, avançou o pingo. A sua morte foi à beira mar. Contou-se o ciclo completo de um pingo de homem.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Who links to me?