terça-feira
O Refugiado
Levo o meu idioma maciço, a minha cultura corpulenta e as minhas memórias pesadíssimas nos meus braços vazios de músculos e nos meus ossos ocos e instáveis.
Fujo, fujo, fujo nesse desespero sem destino; não é essa a definição de fuga? A minha idade não é mais a de me reinstalar ou reerguer e já não será do meu tempo recuperar ou regressar.
Desoriento-me neste universo desértico onde os ventos da humanidade feroz apagaram as dunas da minha vida. A compaixão, sentimento secundário, que só existe em tempo de paz, é gorda e ágil de língua mas esquelética e raquítica de mãos. Sem terra, sem abrigo, sem referências, só sei que sou eu porque disso me convenço.