terça-feira
O Sanguinário
Começou a transpirar sangue. Logo que iniciava uma mentira surgiam-lhe umas linhas líquidas avermelhadas na testa e umas manchas rosadas nos sovacos. Se da sua boca não fosse jorrada verdade, o sangue escorria-lhe pela cara e pingava-lhe dos braços.
Num conto de moral o senhor, para todo o sempre, teria que ditar a verdade, doutro modo morreria de anemia ou secura de veias.
A vida é menos atenta a éticas e a história do homem abriu-se pouco católica: utilizava o desconhecimento acerca da doença (e outras ignorâncias várias) que algumas pessoas mantinham, mentia-lhes, roubava-lhes compaixões e as esmolas caíam e as dádivas cresciam. “Ele não tem nada de anormal”, deduz o médico, “o mundo sofre do mesmo. Também nele a mentira atrai sangue e dinheiro. Incurável.”