terça-feira

Pés Arejados

A aragem atravessa o espaço entre os dedos, as solas de pele olham para o chão sem lhe tocar, o sol sopra a cor acastanhada para os peitos do pé. Aqueles dois peregrinos, que levaram a minha fé, a curiosidade, a tanto lado, ali se abanam, ao ar livre. Por fim, para eles reparo além das suas bolhas, dores de articulações, unhas longas e comichões. Dou-lhes um pouco de liberdade, de vistas - raras vezes tiro as atacas, que são as trelas dos meus pés.
Na excessiva protecção em que os tenho acometido, caminham sempre cegos, sem saberem para onde vão. Eu sei bem de mais os meus destinos: demasiado preso à segurança, só percorro percursos já conhecidos, piso relva que não plantei, areia que não moí, tapete que não teci. Por isso não ando descalço – os meus pés entediar-se-iam de fazer os mesmos trilhos todos os dias.

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