terça-feira
Tornado Interno
Foi como começou o sopro do meu fim: brisas de dúvidas, ventos de suspeições e vendavais de desconfianças tremendas e totais. Não distinguia se me batiam nas costas com dolo ou com felicitações. Vigiando quem por trás me pudesse esfaquear, balear ou empurrar, rodava cobre mim mesmo, em aceleração permanente. Potenciais traidores uniam-se em meu redor. Cercado, girava loucamente, criando tanta força no meu centro que, quando expulsa, devastaria aquela vizinhança de inimigos. Assim o fiz e assim afastei o aro de almas que, pensava eu, me prendia e me apunhalava. Abrandei o meu remoinho e as tonturas vieram. Atordoado, desorientado, desfocado, deslocado, caí inanimado. No segundo antes da perdição, vi o efeito de me ter embrulhado por demais em mim próprio: as pessoas da minha vida, de mãos dadas à minha volta, estendidas e desfeitas.