sexta-feira

O Apagado

Era uma pessoa capaz, como dizem. Sensato e bom entendedor vivia obcecado por passar despercebido. Agia educado para não parecer demasiado rude nem excessivamente simpático. Vestia neutro, sem rasgões nem sujidades, sem marcas, nem acessórios. Com receio de conflitos, não refutava as opiniões de terceiros e respondia-lhes através do sensaborão politicamente correcto, sem traços de originalidade. Permanecendo cinzento, todo o tempo, ia apagando a sua impulsividade; e sem acções automáticas e directas foi perdendo a criatividade. Ninguém se lembrava bem dele, não fazia a diferença, não fazia diferença. A discrição cortou-lhe a personalidade.

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