quinta-feira

O Mendigo

Aquele indivíduo embalado em cartão usado ajeita-se no degrau de uma casa, aguardando a sobrevivência até ao dia seguinte. Depois de jantar, um casal descia a rua e o enamorado, ao habitual acto de cavalheirismo de ir do lado de fora do passeio, acrescentou um outro, o de dar umas moedas ao pobre ali estendido no momento em que a rapariga remexia a carteira à procura de trocos. O indigente agradeceu a dádiva e o par prosseguiu, acrescentando ao sentimento de paixão a dois, o de solidariedade global. Dias depois, acompanhado por amigos ébrios, o rapaz que dera a esmola passa novamente pelo necessitado e, em vez de lhe deixar dinheiro na mão, atira-lhe um cigarro aceso para a barba sebenta. O grupo de jovens imita o acto e riem-se gozões com o feito. “É-se de acordo com quem se está”, considerou, sozinho, o sem-abrigo, não constatando, o próprio, que sem ninguém, é um ninguém.

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