segunda-feira

Viva o Vento

Batem-me as portadas e os portões nos tímpanos. Há por aí ventos trezentos a chocalharem-me a casa. Ainda anseio ver aquela rajada mais distraída que se estampa contra a parede e lá fica esparramada. Nunca vi a cara do vento e estou à espera desse momento. O vento tira cá para fora todos os sons que viviam aprisionados em objectos e vegetação silenciosos. Alguns barulhos, de tanto tempo estarem agrilhoados, não se sabem comportar em liberdade e são assustadores. Quanto mais sopra, com menos ar eu fico. Agarra-se-me aos pulmões o medo, que não me deixa respirar livremente, livremente como voa o vento, em meu redor, ali ao relento. A minha redenção é pôr-me lá fora a planar, aproveitar as correntes do ar. E aí, ai sim que sim, serei eu, e não o vento, a assobiar. Não o assobiar nervosinho ou para o lado. É o assobiar de quem, até com as asas nos bolsos, consegue voar.

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